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No laboratório, alunos utilizando a cartela colorimétrica para análise, 2019 - ICC

Entenda tecnicamente quais são os critérios e parâmetros utilizados para analisar o material coletado e determinar a qualidade ambiental do Rio Sahy.

Desde o dia 22 de março, comemorado o Dia Mundial da Água, estamos lançando uma série de posts explicando o trabalho que o ICC realiza em parceria com o Instituto Verdescola para o monitoramento da qualidade da água do Rio Sahy, localizado na APA Baleia Sahy. Após a coleta da amostra da água do rio, realizada por educadores e alunos, são realizadas as aferições dos parâmetros no laboratório do Instituto Verdescola. Hoje explicaremos como é o processo e os parâmetros desta análise, que determina o índice final de qualidade da água.

Análises “in loco”, feitas observando o Rio

O primeiro bioindicador, analisado ainda no ponto de coleta, são as larvas vermelhas, mais conhecidas como os oligoquetos, parentes das minhocas de terra. São bichos bem pequenos, com cerca de 3 a 5 cm de comprimento e um tom vermelho puxado para o marrom. Estes seres podem ser vistos sobre o solo, em áreas de margem, sem correnteza. Sua presença está relacionada com matéria orgânica presente no rio, portanto, normalmente são vistos isoladamente em regiões com rios limpos, mas que tenham restos vegetais em decomposição na água. Contudo, em rios com certo grau de poluição por esgoto, costumam formar colônias que são facilmente visíveis. Isso porque a poluição proporciona grande quantidade de alimento para eles (fonte: Manual de Campo Observando os Rios /Fundação SOS Mata Atlântica, 2016).

Conforme este método, existem alguns tipos diferentes de larvas que podem ser encontradas nos rios: as larvas transparentes, escuras ou pequenos moluscos. As larvas transparentes correspondem às larvas de peixes, e se parecem bastante com fios de cabelos branco. As larvas escuras podem ser consideradas como larvas de insetos ou de anfíbios, neste caso, são os girinos. Pequenos seres com conchas presentes na água são os moluscos. Todos estes pequenos bichos dependem de uma condição boa da água para sobreviver, ou seja, sua presença em quantidade é um bom indicador da qualidade deste rio.

Os peixes, em sua maioria, dependem do oxigênio dissolvido na água para sobreviver. Havendo fontes de poluição do rio, imediatamente as bactérias iniciam o processo de despoluição deste corpo d’água e, para isto, consomem o oxigênio. Quando há diminuição de oxigênio, os peixes podem morrer ou deixar de se reproduzir, o que leva ao desaparecimento em algum tempo. Apenas algumas espécies como os Guarus sobrevivem em baixíssima condição de oxigênio dissolvido, portanto não são bons indicadores da qualidade de água. Nessa análise, é importante identificar, além da presença, a diversidade das espécies de peixes. Se visualmente for difícil identificar, vale uma conversa com moradores mais antigos da região para saber o histórico das espécies de peixes ao longo do tempo (Manual de Campo Observando os Rios /Fundação SOS Mata Atlântica, 2016).

Segundo a mesma metodologia, para análise do material flutuante, que é tudo aquilo que é transportado pelo rio, o importante é avaliar separando o que é natural, como folhas e galhos, dos produtos industrializados – garrafas plásticas, pneus etc. No caso das espumas, é importante ter um cuidado especial, pois elas podem ser naturais, quando formadas pela agitação das águas, ou decorrentes de produtos industrializados, como aquelas em grandes blocos que se deslocam com a correnteza e são causadas por detergentes provenientes de esgotos domésticos e resíduos industriais.

Como é a análise em laboratório

No laboratório, é feita a análise da qualidade da água utilizando como um dos equipamentos o “ECOKit” para educação ambiental, desenvolvido para o controle da qualidade de água doce e salgada. Dentro dos aspectos legais, pode ser utilizado por alunos a partir do quinto ano ou comunidade em geral, trazendo a oportunidade de vivenciar um experimento simples e seguro.

Conforme a Resolução CONAMA 357, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, são analisados pelos alunos os itens citados a seguir:

Para as análises microbiológicas, são utilizados kits Colipaper (ALFAKITS), que servem para detectar ou confirmar se há presença de coliformes totais e coliformes fecais na água. O Colipaper é uma cartela com meios de cultura em forma de gel desidratado usado para análise microbiológica, indicado para análises de água, efluentes domésticos e industriais, rios, balneabilidade, lagos, piscina, superfícies, verduras e leite. As principais bactérias usadas como indicadores de poluição fecal nas águas são os coliformes totais e fecais (termotolerantes). Na água, o organismo indicador de contaminação fecal mais utilizado é o E.coli, pois sua presença mostra que a água pode ter recebido uma carga fecal, o que ocasiona a deterioração da qualidade microbiológica, podendo trazer risco à saúde de quem consome a tal água.

Para as análises de PH, ou potencial hidrogeniônico, uma escala logarítmica que mede o grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma determinada solução. Utilizamos o pHmetro de bancada, que é calibrado com as soluções tampão. Os eletrodos são lavados com água destilada e, em seguida, mergulhados na solução tampão pH 7,00. Repete-se, então, o procedimento de lavagem dos eletrodos com água destilada e, desta vez, o eletrodo é mergulhado na solução tampão pH 4,00. A determinação de pH se dá quando os eletrodos são inseridos nas amostras de água para leitura do pH e os dados são registrados.

A determinação da turbidez pelo método nefelométrico é adotada nas atividades de controle de poluição da água e de verificação do parâmetro físico nas águas consideradas potáveis. O método é baseado na comparação da intensidade de luz espalhada pela amostra em condições definidas, com a intensidade da luz espalhada por uma suspensão considerada padrão. Quanto maior a intensidade da luz espalhada, maior será turbidez da amostra analisada. O turbidímetro é o aparelho utilizado para a leitura, constituído de um nefelômetro, sendo a turbidez expressa em unidades nefelométricas de turbidez (UNT). O nefelômetro consta de uma fonte de luz para iluminar a amostra e um detector fotoelétrico com um dispositivo para indicar a intensidade da luz espalhada em ângulo reto ao caminho da luz incidente.

Para a determinação de nitrato, fosfato e oxigênio dissolvidos utilizamos o Ecokit, um kit desenvolvido para controle de qualidade da água com reagentes para 100 testes de cada parâmetro físico-químico e cartelas colorimétricas para comparação visual. A intensidade de cor do produto da reação é proporcional à concentração de cada parâmetro físico-químico. A absorção da solução pode ser medida para determinar a concentração destas soluções.

No laboratório, alunos utilizando a cartela colorimétrica para análise, 2019 - ICC
No laboratório, alunos utilizando a cartela colorimétrica para análise, 2019
Kit de análise conforme citado no texto, 2019 - ICC
Kit de análise conforme citado no texto, 2019
Depois é feita a análise dos dados

Após as análises e determinação de todos os parâmetros físicos, químicos e biológicos, os resultados são passados para uma planilha, e os resultados obtidos são lançados no banco de dados do Instituto Verdescola pelos próprios alunos.

Para realizar a análise do controle da poluição das águas dos rios e reservatórios, são utilizados padrões de qualidade, de acordo com os limites de concentração que cada substância presente na água deve obedecer. Esses padrões variam de acordo com a classificação das águas interiores, estabelecida pelo CONAMA. Esse índice incorpora 9 parâmetros: temperatura da amostra, pH, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio (5 dias, 20o C), coliformes fecais, nitrogênio total, fósforo total, resíduo total e turbidez. Estes parâmetros foram escolhidos por especialistas e técnicos como os mais relevantes para serem incluídos na avaliação das águas destinadas ao abastecimento público. A qualidade da água, ou melhor, o Índice de Qualidade da Água (IQA) é baseado na resolução Conama 357 e é classificada como: ótima, boa, regular, ruim e péssima de acordo com a ilustração abaixo:

Tabela para preenchimento dos dados coletados na atividade conforme resolução CONAMA vigente
Tabela para preenchimento dos dados coletados na atividade conforme resolução CONAMA vigente
Resumo das análises do Rio Sahy nos últimos anos

Ao analisar os resultados obtidos na investigação, percebe-se que os valores totais obtidos nestes três anos de monitoramento não atenderam a todos os padrões estabelecidos pela portaria, com isso, a água foi considerada imprópria, conforme gráfico abaixo. Vale ressaltar que para este ano de 2021, foram feitas poucas coletas ainda, então estamos considerando os anos anteriores.

Diante das análises realizadas, constatou-se que a APA Baleia Sahy recebe influências negativas vindas de áreas urbanas próximas. Isso foi evidenciado em todas as coletas realizadas pela presença de contaminação fecal através do método com Colipaper (que, conforme explicamos acima, servem para detecções e confirmativas de coliformes totais e coliformes fecais). Não apresentando variações em períodos de chuva ou seca, a contaminação se manteve regular e constante, como demonstrado no gráfico nesses três anos de monitoramento.

Gráfico de análise total conforme os padrões de classificação de IQA CONAMA 357
Gráfico de análise total conforme os padrões de classificação de IQA CONAMA 357

No gráfico abaixo, podemos analisar mensalmente os resultados das coletas destes anos. No período de alta temporada para visitações turísticas na região (nos meses de dezembro, janeiro e julho), não foram realizadas análises de água, pois é um período no qual os alunos estão de férias do Instituto Verdescola.

De acordo com o gráfico da média dos três anos, constamos que no ano de 2017 o rio se manteve na faixa amarela com IQA regular e uma média de 29,8. No ano de 2018, houve uma melhora significativa na qualidade média da água do rio, subindo para 32,3, embora tenha se mantido na faixa amarela de qualidade regular. Já no ano de 2019, houve uma queda bastante significativa para 21,4, nesse caso, a qualidade da água do rio desceu para faixa vermelha, ruim.

Resultados mensais do IQA do Rio Sahy, conforme CONAMA 357
Resultados mensais do IQA do Rio Sahy, conforme CONAMA 357

Por acreditarmos na importância desse projeto para a qualidade ambiental da região da APA Baleia Sahy, publicaremos mensalmente o resultado das análises da qualidade da água do Rio Sahy em nosso site, mídias sociais – Facebook e Instagram – e newsletter. Acompanhe e faça parte desse movimento pela preservação de nossos recursos hídricos!

2 Comments

  • Felipe
    Posted 17 de dezembro de 2022 at 19:05

    Qual a hipótese para a variação anual da qualidade da água do rio?
    Há diferença na qualidade da agua entre os postos de medidas?
    Seria interessante medir a qualidade em área anterior ao Baleia Verde e ver como se compara com as demais.
    Tb importante registrar a qualidade nos meses de férias, pois aumenta muito o afluxo de turistas.

    • Post Author
      Instituto Conservação Costeira
      Posted 10 de abril de 2023 at 10:01

      Grande parte voltado para o regime de chuvas e concentração de moradores ou população flutuante. Sim há diferanças nos pontos, ao todo são 8 pontos monitorados em todo o curso do Rio para obter estes dados.

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