Dois anos e cinco meses após a tragédia de 2023, o trabalho do Instituto Conservação Costeira (ICC) em São Sebastião foi novamente reconhecido como referência nacional em reconstrução climática e urbana. Na terça-feira (1º/7), a cidade recebeu a segunda visita técnica do curso executivo Insper Cidades, coordenado pelo subsecretário de Desenvolvimento Urbano do Estado de São Paulo, José Police Neto, que reuniu mais de 60 lideranças de todo o país.
Voltado à formação de gestores públicos e privados, o programa apresentou no Litoral Norte paulista um dos principais cases do Brasil em adaptação climática, integrando habitação popular, restauração ambiental, gestão territorial e educação climática.
ICC lidera modelo de reconstrução pós-desastre
Com mais de 12 anos de atuação, o Instituto Conservação Costeira se consolidou como ator-chave na reconstrução de São Sebastião após o desastre climático de fevereiro de 2023, que deixou 65 mortos, mais de mil deslizamentos e milhares de desabrigados. A atuação emergencial do ICC, transformando sua sede em abrigo e base humanitária nos primeiros dias de crise, evoluiu para um trabalho contínuo de articulação entre Estado, prefeitura e sociedade civil.
“São Sebastião se tornou um território-escola para o país”, destacou Fernanda Carbonelli, diretora executiva do ICC. “Aqui testamos e aprimoramos soluções que unem tecnologia, justiça social e protagonismo comunitário.”
Restaura Litoral: drones para regenerar a Mata Atlântica
Um dos destaques apresentados à comitiva foi o Projeto Restaura Litoral, reconhecido internacionalmente e premiado cinco vezes por seu caráter inovador. A iniciativa utiliza drones para lançar sementes nativas em áreas de encostas devastadas por deslizamentos, acelerando a regeneração da Mata Atlântica e reduzindo riscos de novos desastres.
Desde 2023, o projeto já restaurou mais de 203 hectares em regiões críticas como Vila Sahy, Boiçucanga e Camburi. A ação envolve viveiros regionais, coletores de sementes e comunidades tradicionais que conhecem profundamente o bioma, fortalecendo a economia local.
Escolas Seguras: educação climática para o futuro
Outra frente visitada foi o Projeto Escolas Seguras, apoiado pela Gerando Falcões. A iniciativa já engajou mais de 2.000 estudantes de escolas públicas em atividades de redução de risco, cartografia social, instalação de pluviômetros e mutirões ambientais.
“São jovens que vivem nas áreas mais vulneráveis e hoje participam ativamente das soluções”, explicou Carbonelli. “Estamos formando uma geração preparada para enfrentar a emergência climática.”
Referência nacional
A visita técnica reforçou São Sebastião como modelo de reconstrução climática em rede, integrando políticas públicas, conhecimento técnico e participação comunitária.
“Nosso objetivo é inspirar outros municípios a estruturarem respostas mais resilientes”, afirmou José Police Neto. “O que vimos aqui é um exemplo de como a adaptação climática pode ser construída a partir do território.”
De abrigos improvisados às novas moradias do CDHU, da restauração da Mata Atlântica com biotecnologia às aulas de educação climática nas escolas, São Sebastião mostra que a reconstrução é possível — e que pode servir de guia para cidades de todo o Brasil diante da nova realidade climática.